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studiomarciaporto@gmail.com

Backlit Studios

Alfred House, Ashley Street, Sneinton

Nottingham NG3 1JG

backlit.org.uk/

STATEMENT

Minha prática em ateliê é profundamente ritualística: vai desde a ocupação dos espaços e das paredes – onde elaboro montagens com elementos coletados de diferentes fontes – até a realização de performances nas quais interpreto cenas que servirão para compor, a seu tempo, um trabalho. A compilação de referências se dá a partir da relação entre literatura, cinema, fontes históricas, alquimia, histórias pessoais e acontecimentos atuais. Por meio do desenho, da pintura, da performance e da instalação, crio narrativas não lineares impregnadas por essas referências, onde a presença das Ginaiques, um grupo de mulheres nômades, simultaneamente autorreferenciais e estrangeiras, é recorrente.

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Acredito que o corpo viajante pode lançar raízes em séculos e em lugares esquecidos, nos quais sempre existiram mulheres que ansiavam por partir, e o fizeram. Meus processos de pesquisa e criação, portanto, exploram os itinerários das longas jornadas percorridas por essas mulheres, cuja potência é a vontade de ação. O nomadismo, aqui, é visto como uma estratégia de fuga dos processos homogeneizantes identitários, visto que tais processos soterraram a diversidade de vida e cultura das mulheres. Estou particularmente interessada em aproximar dois pontos de vista: as ações libertárias e as tradições inventadas. Desde 2000, tenho explorado esta tensão. E nesses anos de trabalho, observei o seguinte: quando as Ginaiques rompem com as normas e os discursos, emergem duas ações aparentemente distantes – de um lado, o retorno de gestos antigos; do outro, o caos, a total alteridade.

Márcia Porto opera no campo simbólico, criando narrativas não lineares a partir de grandes painéis que elabora nas paredes do seu ateliê, onde reúne imagens e textos que coleciona. Vive e trabalha em Nottingham, Reino Unido. Possui mestrado em Poéticas Visuais pela Unicamp, Campinas (2008) e bacharelado em Artes Visuais pela Unicamp, Campinas (1987). 

O cabelo das Ginaiques diz muito sobre elas. Com seus cabelos, elas criam novos lugares, espaços, conexões, territórios frágeis. Suas longas tranças são instrumentos de autoexpressão e singularidade, além de possuírem autonomia e rituais próprios.

As Ginaiques

Consta que essas mulheres ansiavam por um lugar por vir. Errantes que eram, passavam um dia com quatro palavras: inversão, transposição, inundação e irradiação. Há muitas gerações, as Ginaiques se esqueceram de sua origem – e agora, libertas da ordem do tempo, evocam:

 

 – “Quando foi que deixamos a porta aberta?”

FLORA

Vi sua imagem pela primeira vez aos dez anos.
Criança na biblioteca da prima, fechei a porta, deixando para trás o aroma
do café, vozes, risadas...
Abri um livro de capa verde, com a imagem de uma mulher vertendo leite
em uma tigela, próxima à uma janela de luz mágica.
A cada página, um universo. Então você chegou, com esse gesto que não
canso de imitar (até pulseira fiz).
Seus cabelos siena queimada, sem a diadema, certamente são longos. O
kalathos-vórtice, que você segura na mão esquerda, abriga e propaga flores
simultaneamente.
Suas vestes, a túnica amarela – qual a sensação de vestir fluidez e vento?
Que espaço é esse onde você (não) pisa?
Como é viver em uma paleta restrita, com tantas possibilidades sutis de
desdobramentos?
Você está colhendo ou criando flores?

Flora di Stabiae
I – 45 d.C.
Museo Archeologico Nazionale di Napoli

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