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diaspora

Sesc Rio Preto, São José do Rio Preto (2017)

Curadoria Josué Mattos

A dispersão é o movimento que define Diáspora. É feita de matéria resistente, dividida e interligada entre força feminina e animal. Não esconde identidades saqueadas, sendo entendida como objeto de construção de um tempo saturado de “agoras”¹ , que define o conjunto de obras de Márcia Porto, mantido desde o final de 1990.

As Ginaiques, mulheres errantes, autorreferentes e estrangeiras simultaneamente, transitam livremente em busca da origem esquecida, convivendo com ideias criadas sobre si por quem acabou por transformá-las em ameaças ao homogêneo. Tudo porque saíram sem olhar pra trás. Vagamente ciente de certo desconforto no ar, uma entre elas encabeça o movimento que desestabiliza processos homogeneizantes. Intrusas, testemunham a estupidez de vozes que acolhem o estrangeiro, fazendo com que este se adeque às particularidades do local por onde passam. No entanto, como a Diáspora não tem identidade fixa e carrega a sua origem lacunar, preenchida por particularidades encontradas em cada novo lugar, ao trafegar por vielas labirínticas, essas mulheres convivem com perguntas que ecoam por todos os lados, como aquele hino choroso que Caetano cantou: “existirmos: a que será que se destina?” As respostas renovam a urgência do movimento.

Constituída por memórias picotadas, Diáspora é gerada pela insaciável fome do lugar do outro. É resultado de um processo de colonização do ver, pensar e trilhar. “A gula do chão vai comer o meu olho”, disse certa vez Manoel de Barros. A Diáspora, que a artista constrói sobre esta arquitetura temporária, se dá após a perda do chão e a decorrente experiência da instabilidade geradora
de contato com o imprevisível. As Ginaiques...

ignorando os sinais do chão, distraídos pela superfície

Ateliê Imprevisto, Sorocaba (2017)

o encantamento é um mal necessário

Exposição coletiva  “Algumas coisas que talvez amanhã hajam desaparecido”, curadoria Josué Mattos, Ateliê Imprevisto, Sorocaba (2017).

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